quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

POR DETRÁS DA FRUSTRAÇÃO



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Por Meiry Kamia
www.meirykamia.com
Lucinha sentia-se arrasada. Frustrada. O desânimo era tanto que mal conseguia disfarçar. Dedicara cinco anos para a empresa, e agora, num processo de mudança e reestruturação, via-se com um chefe novo, fruto de uma contratação externa, num cargo que deveria ser o dela. Era terrível receber ordens de quem ainda nem entendia bem os processos da empresa. Sem contar a frustração de não ter sido reconhecida por tantos anos de trabalho. Estava perdendo prestígio e esforçava-se para esconder as dívidas que aumentavam como uma bola de neve. Era triste não poder comprar uma roupa decente para trabalhar. O carro começava a dar problemas, e a qualquer momento poderia parar de vez. Mas não tinha dinheiro para trocar de carro.
Em casa a situação não era diferente. Era todo dia a mesma coisa. Saia voando do trabalho, pegava as crianças na escolinha, trânsito, e chegava em casa para a outra jornada de trabalho. Abria a porta do apartamento, e via aquela bagunça. Desânimo novamente. Ia direto para o fogão. Durante o preparo da janta gritava irritada o tempo todo com as crianças. “Vá tomar banho!”, “Tira essa roupa já!!”, “Faz logo a droga da lição!”, “Vem jantar! Rápido!”. “Droga!” pensava consigo mesma, “Por que eu não tenho crianças educadas? Obedientes? Essas me irritam o tempo todo! Que inferno!!”.
Lembrava-se sempre com muita mágoa do ex-marido. Em sua visão, um dos principais responsáveis pelo seu fracasso. Ela, que tinha dedicado tantos anos ao casamento, imaginando um marido atencioso, generoso, que pudesse ‘bancar’ as suas contas, agora, estava sozinha e jogada às traças. “Como pude me enganar tanto?” pensava ela.
Lucinha estava cansada, esperava que a qualquer momento alguma coisa pudesse acontecer para tirá-la desse circuito de chateações e frustrações, porque ela mesma já não tinha mais forças para lutar. Parecia que o mundo havia feito um complô contra ela, onde todos trabalhavam para a sua infelicidade.
A história de Lucinha ilustra o processo da frustração. A frustração é causada pelas expectativas criadas em relação às pessoas e situações. Fantasiar situações é comum e até saudável para o ser humano. O problema ocorre quando há o apego às fantasias ou desejos criados e não se aceita o mundo real. Aí surge o sofrimento.
A criança, por imaturidade psicológica e afetiva, apresenta mais dificuldade para tolerar a frustração. Por isso é comum ver crianças se jogando no chão, gritando, esperneando, toda vez que a mãe se recusa, por exemplo, a comprar um brinquedo numa loja. Conforme amadurecem, o egocentrismo diminui, e elas começam a entender que o mundo nem sempre é compatível com as fantasias que criam. E ter essa compreensão ajuda a lidar melhor com a realidade.
Um dos geradores da frustração é a projeção. Por exemplo, a paixão, comum no início de todo relacionamento amoroso, é exatamente isso, uma projeção do ser que ama no ser amado. O ser que ama projeta suas necessidades, admirações, criam expectativas de que o outro irá preencher suas carências. É óbvio que, cedo ou tarde, virá a frustração porque o ser amado não é a projeção, e sim uma pessoa. Sendo assim, a qualquer comportamento ou tomada de decisão do ser amado que não combine com a projeção criada, isso será considerado uma traição. E ouvimos queixas do tipo “como pude ser tão cego?”, “como pude me deixar enganar?”, etc.
Também costumamos projetar nossa felicidade em situações, ou objetos. E, como no caso de Lucinha, o fato de não ter o cargo desejado no trabalho, de não ter como comprar roupas novas, sapatos, carros, etc., conforme ela projetara para si mesma, já é motivo para a frustração.
Manifestações da frustração são a raiva e a tristeza. Assim como a criança esperneia quando não consegue o brinquedo desejado, o adulto imaturo xinga, fala mal, faz birra, etc., pois é a forma que tem de mostrar sua insatisfação. Depois, ao perceber que a realidade não muda, vem a tristeza junto com o sentimento de impotência, e assim, se torna queixoso e escravo daquilo que não tem. O frustrado, por imaturidade, nunca assume a responsabilidade por suas frustrações. A culpa será sempre do outro.
Então, o que é saudável? Ser saudável é ser maduro. É ser menos egocêntrico. É entender que não se tem controle sobre sentimentos, situações, personalidades, jeitos de ser, etc, de outras pessoas. É ser tolerante às frustrações, e isso não significa ser passivo, mas sim saber sonhar, mantendo os pés na realidade.
Tolerar frustrações fortalece o espírito, desenvolve a maturidade, e amplia o aprendizado. Grandes empreendedores passaram por inúmeras frustrações. A diferença entre o frustrado eterno e o vencedor é a forma como eles lidam com a frustração. O primeiro sucumbe, enquanto que o segundo, supera. Se as coisas não saíram da forma como você imaginava, pergunte-se a si mesmo “onde poderia ter feito melhor?”, “o que posso aprender com essa situação?”, “como posso melhorar meu desempenho para atingir o que preciso?”.
MEIRY KAMIA - Palestrante, Psicóloga, Mestre em Administração de Empresas e Consultora Organizacional. Site: www.meirykamia.com; contatos: 11-2359-6553; contato@meirykamia.com
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